quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ọrúnmìlá e a perseverança.



Ọrúnmìlá recomenda perseverança em tudo o que seus seguidores fazem. Vocês não poderiam em sua própria vontade vingar alguma ofensa feita a eles pelos outros. Ele não quer seus seguidores envolvidos em ações diabólicas, especialmente aquelas que objetivam a destruição de outras pessoas. Ele avisa nos poemas, que aqueles que tomarem as almas de outros, também pagarão com suas próprias almas ou com as almas de seus filhos e netos. Ele insiste que a posição dele é a melhor para proteger seus filhos, caso eles não resolvam tomar as leis da natureza em suas próprias mãos. Ọrúnmìlá insiste em que se alguém planeja a morte contra seus filhos, ele certamente fará com que a conspiração não tenha sucesso.
Contudo se seus filhos revidarem planejando também a morte ou a ruína daqueles que o ofenderam, Ọrúnmìlá rejeitará a justificação dos argumentos nos casos de cada filho, quando as divindades se reunirem em julgamento sobre a questão. Nenhuma questão é estabelecida sem ter sido determinada pelas divindades. Estas por sua vez, não condenam ninguém sem um julgamento limpo. Mas se alguém adquire por preempção ao julgamento divino pela lei do retorno, olho por olho, ele perde a justiça de sua causa. Ọrúnmìlá recomenda que seus seguidores tenham conhecimento de qualquer um que queira planejar o mal contra eles, sua primeira reação será ir ao oráculo a fim de descobrir se a pessoa terá sucesso.
Frequentemente se o peso da culpa está dentro da outra pessoa, será dito que o inimigo não o vencerá. Se por outro lado, o peso da culpa se inclina levemente contra você, você será orientado durante a consulta oracular no sacrifício o qual deverá fazer a fim de que a conspiração maléfica contra sua força pessoal não tenha sucesso.
Ao invés de fazer sacrifício, algumas pessoas preferem ainda os atos vingativos através da ida aos feiticeiros para preparar remédios mortais, com os quais combaterem o inimigo. Em alguns casos, se Ọrúnmìlá vê que o remédio que seu filho está preparando contra seu inimigo fará a ele algum mal e o mesmo obterá repercussão dolorosa no desenrolar, ele neutralizará a força do remédio e o tornará inútil.
Diante desta situação a pessoa forte começa a se questionar se o feiticeiro o enganou. Ele não o fez.
Ọrúnmìlá tem apenas demonstrado para seus filhos que destruir algum inimigo é destruir a si mesmo. Se você aponta um dedo na direção do seu inimigo, os quatro restantes, os quais são em maior número e simbolizando o eco, estão apontando para você. Ọrúnmìlá ilustrará que alguém que cava a sepultura de seus inimigos está ao mesmo tempo cavando sua própria. Este é o motivo de que a oração frequente de Ọrúnmìlá é para o bem dos amigos, inimigos, feiticeiras, divindades, irmãos e irmãs, assim que por esta razão aqueles que lhe desejam mal talvez não o alcancem.
Ele defende que é frequentemente muito recompensador para você orar por um inimigo que está planejando o mal contra você do que quando as divindades se unem para solucionar o caso, o peso da probidade estará ao seu lado. É melhor ter o suporte das divindades em certa situação do que atrair sobre si a sua reprovação.

Por: Áwo Ifálolá

Fonte/Crédito: Ary Carvalho (Da Ilha) - Culto a Ìfá.

CILADAS NO CAMINHO DA ASCENSÃO ESPIRITUAL


Autores de livros de autoajuda frequentemente listam coleções de atitudes e sentimentos que resultam em entraves para a trajetória daqueles que se empenham na sua evolução espiritual. Aqui vai a nossa lista de observações para o seu autoexame, com itens que consideramos perigosas armadilhas sempre à espreita do Ego desavisado e que podem conduzir a enganos, resultando em grande perda de tempo na senda:
1. Não reconhecer a negatividade do seu Ego como fonte primeira de todos os problemas, tudo atribuindo a fatores exteriores. Deixar de vigiar e educar de modo correto o seu Eu Interior, mergulhando intensamente na vida espiritual e tudo ao sobrenatural atribuindo, em desconsideração ao aspecto psicológico da sua personalidade.
2. “Amar” aos outros, descurando a si mesmo. Utilizar o álibi do “serviço ao próximo”, ignorando as responsabilidades para consigo próprio e para com os seus dependentes imediatos. Quem não ama a si mesmo é incapaz de amar a quem quer que seja. Só compartilha quem dispõe de algo a ser compartilhado. A Escola Terra destina-se ao burilamento do Eu Divino que se encontra em estado bruto e revestido por camadas egóicas no interior de cada um.
3. Comer incorretamente, ignorando a constituição química do seu corpo físico. Acreditar que numa alimentação que restrinja o prazer degustativo, ou no jejum, encontrará as chaves mágicas da ascensão espiritual. Não praticar exercícios físicos para cuidar do corpo físico que, afinal, é o nosso instrumento principal. Tender para o ascetismo e desligar-se demasiadamente das coisas da Terra, vitais para a nossa experiência em matéria. Identificar-se excessivamente com seus corpos mental ou emocional, sem ter ainda atingido o equilíbrio necessário. Considerar-se evoluído demais para estar na Terra, ao invés de tentar contribuir para uma mudança de paradigma aqui e agora.
4. Exercer domínio sobre os outros através de ameaças e manipulações, sufocando as manifestações do seu livre-arbítrio. Deixar-se enredar pelo glamour e ilusão dos próprios poderes, acabando por esquecer o amor incondicional – onde reside o poder espiritual supremo. Ter a pretensão de acreditar e assegurar que está no “final da roda encarnações”.
5. Tornar-se um extremista fanático, sem enxergar o equilíbrio do caminho do meio. Buscar argumento e justificativa nos dogmas das religiões formais, sem exercer com lucidez o seu próprio discernimento. Apoiar-se e depender da figura de um sacerdote ou guru como intermediário entre si e o Divino.
6. Tornar-se sisudo, autoritário e formal, a ponto de privar-se da alegria e da diversão. Mascarar tranquilidade e suavidade, enquanto a presunção interior ferve com irritação e intolerância.
7. Ser indisciplinado nas suas práticas espirituais, abandonando-as quando se envolve num relacionamento amoroso e conferindo prioridade a ele, em detrimento do seu processo interno.
8. Esperar que Deus, os Mestres ascensionados - ou seja lá quem for – resolvam todos os seus problemas, intercedam pelas suas dívidas cármicas ou assumam as suas responsabilidades. Acreditar que alguém teve o privilégio de nascer “pronto” e que os Seres e Mestres ascensionados não trilharam o mesmo caminho dos desafios, provas que a evolução requer.
9. Convencer-se de que o sofrimento e o cultivo da pobreza são méritos que poderão acelerar a sua evolução ou engrandecê-lo espiritualmente. O trabalho eficiente que produz frutos e riqueza que a muitos beneficia é uma bendita missão na Terra. Cada um tem o direito de honrar o seu próprio esforço e reconhecer o seu valor. O manto da humildade costuma servir de disfarce para a arrogância e o orgulho exacerbado. Falsa humildade não deve ser confundida com elevação espiritual. Quem conhece a sua verdadeira e ínfima dimensão perante o Divino, não precisa mascarar humildade, inferiorizando-se perante os seus semelhantes.
10. Não fechar o seu campo energético, convencido de que “as boas intenções” o tornam imune a todas as influências negativas. Achar que, partindo da premissa de ser merecedor, seus desejos e pedidos devem ser sempre “atendidos”. Ser bem-sucedido é muito gratificante, mas o objetivo principal da vida não é a obtenção de tudo o que se deseja.
11. Viver na zona de conforto relaxando a vigilância sobre suas falhas, acreditando que está imune a quedas e retrocessos.
12. Ler demais, não meditar o bastante e colocar em prática menos ainda.
13. Considerar uma grande honraria poder servir como canal para entidades de outros planos, ao invés de expressar a sua própria voz. É preciso estar ciente de que, mesmo o mais evoluído dos Seres – da Terra ou de outro orbe – não detém o conhecimento total ou poderes ilimitados. Esta é uma prerrogativa da Divindade Suprema – que comanda todo(s) o(s) Universo(s) com seus muitos trilhões de galáxias.
14. Forçar a elevação da sua kundalini e a abertura dos chakras, sem ter ainda o necessário amadurecimento em outros aspectos, como se isso, por si, assegurasse o acesso ao “nirvana”. Portanto, o ideal é procurar equilibrar e integrar intuição, intelecto, sentimento e instinto, cada qual na sua devida proporção e valor.
15. Considerar o seu caminho espiritual – quando não o único-melhor do que o dos outros e aferrar-se a este caminho como Verdade única e definitiva, sem considerar que as vias são inúmeras e que a impermanência é constante no Universo manifestado. É preferível abster-se de discussões ou da pretensão de, no entusiasmo das suas experiências, convidar o outro a experimentar as vivências que são suas. Para cada patamar há afinidades próprias e experiências particulares.
16. Julgar as pessoas em função da sua antiguidade na senda espiritual ou do nível de iniciação que alcançaram. Gabar-se das próprias façanhas espirituais ou das dos seus mentores e guias. Forçar com ansiedade as próximas etapas, ao invés de concentrar-se na realização do trabalho – e nos dissabores – da etapa atual.
17. Competir, comparar-se com outras pessoas e acabar invejando o sucesso alheio, ao invés de perceber que somos únicos, com dons e potencialidades próprias, cada qual segundo circunstâncias e vivências específicas. Por fim, jamais esquecer que o Caminho é individual e, portanto, solitário. Não se imbuir da busca infrutífera de uma eventual “alma gêmea”, sem perceber que a sua própria Alma – a Mônada – dispõe de ambas as polaridades para se complementar plenamente.

Por Òya gbémi – Eliane Haas
Ìyá Ègbé Ilè Àsè Efunlase

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sasányìn – O culto as folhas sagradas.


Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.
Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do iyawo para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência.(quente/fria, macho/femea).
O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalossayìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.
As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè (ajoelhados). O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela acesa à frente, sem pressa e rápido. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ajubó de Òssayìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.
Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada, e também, sempre com louvação a Pai Ossayìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Iyawo participa que é entregue a Exú Òdàrà em seu ilê, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do axé.
Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà! Orún ejé.
“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Ossayìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Babás, Iyás, ancestrais, aos egbons, sua raiz e axé, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Orunmilá e por fim a Oxalá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas de axé, reverenciando o Màrìwò e Ósányìn.
“Ògbèri nko mo Màrìwò” – O não-iniciado não pode conhecer o mistério do Márìwò.
Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o Axé, para o osé, etc.
Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o Igbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas.
Pai Òssayìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que passarinho pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do axé das casas ketu/Nagô. Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidaes, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.
Ewé Òrìsà!

Fernando D’Osogiyan

Vodun Sòhòkwè (Xoroquê)




































Sòhòkwè (lê-se Soroquê) é um vodun filho de Mawu e Lissá, cujo elemento principal é o fogo. Muitas são as dúvidas relacionadas a esse vodun. Devido a mistura de cultos, já explicada em outros tópicos, Sòhòkwè passou a ser aglutinado na cultura yorubá, passando a ser confundido com um dos caminhos de Ògún. Segundo o mito yorubá, Ògún Sòhòkè (lê-se Xoroquê) é o Ògún que desceu as montanhas, sendo o senhor das trilhas e do fogo líquido onde, Xòrò deriva do termo yorubá “Sòròrò” ou “Xòròrò” que significa descer ou escorrer e,” òkè” significa montanha. Segundo os mais velhos é um Ògún muito arredio, sendo muito coligado ao seu irmão Èsú e tendo todas oferendas e fundamentações com o mesmo. Dizem ainda que essa “qualidade” de Ògún tem muito fundamento com ègún, sendo ele responsável por todos aqueles que desencarnam em acidentes na estrada ou linha férrea. Em outras casas, Sòròkè deixou de ser uma qualidade de Ògún e passou a ser um Èsú , com as mesmas características do Ògún Sòròkè porém, sendo fundamentado como qualidade de Èsú e passando a ser cultuado como o mesmo. Mas para nós de jeje, Sòhòkwè não é nem Èsú nem Ògún e, sim um vòdún independente, com culto próprio e de características próprias que acabou por ser fundido a cultura desses dois òrísás por ter coisas em comum. Isso ocorreu também com outras divindades como Agbé, Aboto, Azansu, Sogbo, Intoto e outos mais que acabaram aglutinados a cultura de outras deidades africanas, talvez por falta de estudos ou fundamentos. Sòhòkwè é o guardião das casas de jeje, onde Sòhò(lê-se sorrô) significa guardião e kwè(lê-se Qüê) significa casa. Seu assentamento é fixado ao chão, cravado na terra, ao lado do assentamento do vodun Légbà, vodun Ayizan e do vodun Gú (Ogun). Sòhòkwè não é iniciado na cabeça de nenhum adepto pois o mesmo não incorpora. É iniciado apenas na cabeça de ogans e ekedis e possui a função de manter a ordem dentro das casas de jeje, punindo e cobrando quem as derrespeita. Sòhòkwè é o caminho formado pela lava após ser expelida do vulcão, possuindo muito fundamento com Badé, Sògbò e outros voduns que moram nos vulcões e que estão ligados ao fogo e também com Oyá. Sua cor é o Azul escuro e o vermelho, seu dia da semana a segunda-feira . Geralmente quando aparece um filho rodante com arquétipo de Sòhòkwè geralmente é iniciado para Ogun.

Por: Hùngbònò Charles - Nação Jèjè Mahì

terça-feira, 5 de junho de 2012

A Canção dos Homens.


A CANÇÃO DOS HOMENS

Quando uma mulher de certa tribo da África sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres, e juntas rezam e meditam até que aparece “A canção da criança”.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam sua canção. Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe canta a sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento de seu casamento, a pessoa escuta sua canção.

Finalmente, quando a sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, como em seu nascimento, cantam sua canção para acompanhá-la na “viagem”.
Nesta tribo da África, tem outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, levam-no até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam “sua canção.”

A tribo reconhece que a correção para as condutas antisociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção, já não temos desejo nem necessidade de prejudicar ninguém.
Teus amigos conhecem a “tua canção”. E a cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes, ou as escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam tua beleza quanto te sentes feio, tua totalidade quando estás quebrado, tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.
Tolba Phanem
Poetisa Africana

Roberto Machado
Álbum com últimas publicações de Roberto Machado.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Casa de Òsùmàrè, as roupas no candomblé.

Preocupados com a perpetuação sobre o vestuário dos praticantes do Candomblé, bem como dos nossos Òrìsàs, o Terreiro Ilé Òsùmàrè Asè Ogodo, vem por meio deste veículo, esclarecer alguns pontos, tendo como princípio a cultura que nos foi passada, ao longo de mais de um século de tradição. Percebemos que o complexo código de ética relacionado às vestes dos praticantes do Candomblé, está sendo diariamente infringido, expondo a nossa religiosidade de forma profana em meio à sociedade. Dessa forma, esse artigo tem por objetivo, dirimir dúvidas de pessoas que não tiveram o acesso à informação e, também expor a opinião do Asè Òsùmàrè sobre esse importante aspecto da nossa religiosidade.
Desatentos às hierarquias das indumentárias e vestimentas do Candomblé, muitos participantes (talvez pela falta de conhecimento) estão desrespeitando, não somente os seus mais velhos, mas também as nossas Divindades. Isso ocorre, principalmente, com a chamada “carnavalização” dos tradicionais paramentos dos Òrìsàs. A situação vem se agravando, ao ponto de recriarem os trajes, implantando assim, uma nova maneira de vestir os Òrìsàs e seus filhos, ignorando a tradições centenárias, originarias de uma Religião milenar e, desrespeitando, de forma muito preocupante, a essência de cada Òrìsà.
Com o cuidado de não ditar ou impor um código vestuário, apontaremos abaixo, apenas algumas violações (as mais recorrentes) que comprometem as tradições do Candomblé, descaracterizando de forma muito triste a nossa religião, bem como, algumas recomendações da nossa Casa.


ÌYÁWÓ
MOKAN: Uso indispensável
IKAN: Uso Indispensável
DILOGUN: Uso Indispensável:
“LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se dançar Sire de branco;

ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

OGÁ (OGAN):
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

EKEJI (EKEDE):
SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana;
TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma toalhinha para “enxugar” o Òrìsà.

ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS);
MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na confecção da Roupa dos Òrìsàs;
ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos;
ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite prata ou “azul clarinho”
PENAS.: Nossa religião é tribal, mas não indígena, a utilização de penas na confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva;
SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta;

ÀSÈSÈ:
HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété;
MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas);
PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;

BATA:
QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye, etc. – Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as autoridades);
CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido! Um ditado tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a Ignorância da Ègbón;

PANO DE CABEÇAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita às mulheres (o Babalòrìsà “em sua casa” tem a autonomia de optar ou não pelo uso. O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como por exemplo Bori”);
ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino, você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo, que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua Ìyálòrìsà;

PANO DE COSTAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrito às mulheres.
UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano na cintura);
USO TRASVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;

FIOS DE CONTA.:
AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas);
BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;

SAIAS:
QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, mesmo se seu Òrìsà seja ayaba);
CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);

ROUPAS BRILHOSAS E BORDADOS:
ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o brilho);
BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca, Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e pessoas com obrigação de sete anos arriada;

BRINCOS E PULSERIAS:

Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar brincos e/ou pulseiras.
A Casa de Òsùmàrè, pede que as pessoas reflitam sobre a essência de nossa ancestralidade, os Òrìsàs. Uma Ìyáwò aguardar a conclusão de suas obrigações, para a utilização de determinadas vestes, não a coloca inferior à ninguém, muito pelo contrário, mostra somente sua resignação por um determinado período, em obediência às regras do Candomblé pelo seu Òrìsà. O cumprimento desses interditos, confere ainda mais valor à obrigação de sete anos, em que a então ìyáwò, poderá utilizar-se de outras indumentárias, estando desta forma, em outra fase de sua missão religiosa (torando-se uma ègbón). No Candomblé, todos os passos são galgados, assim como na vida, afinal, a criança não nasce andando, existe um processo de aprendizagem. Uma mãe preservadora resguarda sua filha das maquiagens até a idade certa, etc. Assim é o Candomblé.
Um Ogá não pode se sentir desprezado por não vestir-se como um Babalòrìsà, ele sim, deve se sentir orgulhoso em pode estar preservando a cultura dos antigos Ogá. Um Oga vestido com Ogá, é facilmente identificado em meio a multidão. O mesmo se aplica aos Babalòrìsàs, que não podem almejar as vestes femininas, pois nesse caso, ao invés de mostrar poder e distinção, evidência sua falta de conhecimento sobre a liturgia de cada elemento utilizado. A Casa de Òsùmàrè, não tem a intenção de ditar regras, mas sim, expor seus costumes, aprendidos ao longo de gerações, divulgado e esclarecendo muitas pessoas que jamais foram orientadas sobre como se vestir no Candomblé e por isso, cometem tantos erros.

Fonte/Crédito: Fernando Tì Òsògìyán
Pesquisa: Casa de Òsùmàrè/BA

Oyá Ìgbàlè – O Mito

Eèpàrìpàà! Odò ìyá


Esse post sobre Oyá serve também para desmistificar de vez a palavra Ìgbàlè e dar valor a essência da liturgia de Oyá e seus caminhos, dando-lhe a verdadeira conotação e entendimento litúgico.
Para um melhor entendimento e compreensão deste caminho de Oya, julgo necessário obter o devido conhecimento da palavra Ìgbàlè.
A palavra Ìgbàlè significa – pequena mata, lugar sagrado; tem a conotação de “A Floresta Sagrada dos Egúngun” ou “O Bosque Sagrado dos Ancestrais”. O mito relata que:
“..Em épocas muito remotas, havia na cidade do Oyo um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado ihobia, pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.
Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado, correu ao Babalawo, que consultou o oráculo de Ifá. O sacerdote indicou que, após o l7º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um “bastão de invocação” do qual deveria ser denominado de isan. Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de antes fazer certos sacrifícios e oferendas.
Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.
Deste dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos as outras pessoas; as belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente suas condições de mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai, deveria ser “acomodado” os fundamentos do culto e denominado de ojúbo – Altar, no mesmo local do primeiro encontro, ou seja no Igbó Ìgbàlè, ali seriam feitas as oferendas e os sacrifícios e onde as roupas deveriam permanecer guardadas, para que eles as vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.
Seguindo o pacto e as instruções do Babalawo, de que sempre que os filhos morressem fosse realizado o ritual após o l7º dia, pais e filhos para sempre se encontraram. E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas que elas as farão com imenso prazer…”
Assim sendo, poderia interpretarmos Oya Ìgbàlè como “A Senhora da Floresta Sagrada dos Ancestrais”.
Se um dos atributos de Oya em sua pura essência é o “Espírito do Vento”, neste caminho ela é denominada de “O Vento da Morte, A Regente do Vento Invisível dos Egúngun” Oya Ìgbàlè é a divindade que Olódúmarè outorgou o direito de controlar os espíritos dos seres humanos quando desencarnados. Ela tem que assegurar que nosso espírito, de uma forma ou de outra, não seja prejudicado nesta “transição” tão delicada. Esta transição esta sub-dividida em 9 etapas: leito de morte, velório, caminho do cemitério, porta do cemitério, caminho da sepultura, sepultura, ritos fúnebres, despacho do carrego e o caminho para o além; e caso este espírito tenha que regressar ao mundo dos vivos, para solucionarmos alguma pendência, novamente deverá ser acompanhado por Oya Ìgbàlè.
Há tradicionalista modernos quem diga que o conhecido Déjà Vu a esta divindade pertence.
Oduleke foi o primeiro caçador a receber os ritos do Asese, celebrado por Oya Ìgbàlè. Até então este rito era somente destinados aos caçadores, para somente depois ser designado a todos os iniciados e consagrados ao Culto do Òrìsà e Egún.
Uma de suas principais características, esta em sua lealdade para com seus seguidores. Quando Oya Ìgbàlè acompanha seus seguidores em uma batalha, invoca seu poderoso exército de Egúngun liderado por um dos mais temíveis Ancestrais – Baba Ajimuda. Os mitos relatam que nesta batalha Oya Ìgbàlè cobre o rosto com uma mascara para ocultar a face da destruição. Na diáspora, esta mascara foi substituída pela pintura de efun do qual cobre por completo o rosto de Oya Ìgbàlè e que ninguém deve dirigir o olhar diretamente a ela, mesmo que esta cerimônia seja realizada no escuro.
No Novo Mundo Oya Ìgbàlè passa a morar no Ile Awo – A casa do Segredo, mas especificamente no Ile Sanyin ou popularmente conhecido com Lesanyin quando cultuada no Culto de Lese Egún e no Ile Ibo Aku quando cultuada em Lese Òrìsà. Suas representação materiais e seus atributos diferem de um lugar para outro, porém seu maior segredo se mantem em igualdade em ambos os cultos. Entre tantos outros o que mais diferencia seus assentamentos, são a presença de uma ossada retirada do corpo de um animal, do qual deverá ser prepara e consagrada para determinadas funções. Sabemos que o osso representa a morte, a representação de um ser que em outrora vivera.
Oya é evocada para para Proteção contra ataques de perversos ou Iku-Egun, atrair Amores, fertilidade na esterilidade, saúde das trompas, vendas de todos os tipos, Melhorias no comércio, movimento de comercio, atrair clientes, tomar iniciativa, Faxina espiritual, varrer os espíritos perversos.
YANLE – banquete de Oya
Ewure , Etu , Adiyé , Aparo, Adaba, Agbado cozido e pilado, Egbo cozido e pilado, Akara, Ipanu (Caramelos com gengibre), Ekò pupa, Ekuru pupa, Ibakan , Olele, Obi abata com Osun, Orogbo com Osun, Epo em quantidade, Oyin, etc.
Tabu: Agutan (carneiro), a fumaça, o Adin, a todos os Egusi (abobora, melão, melancia, cabaças).
Oyà sempre dá uma parte do sacrifico para Sango e Egungun, mas quando houver sacrifício.
(Por Babá Guido – Okitalande)