quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ọrúnmìlá e a perseverança.



Ọrúnmìlá recomenda perseverança em tudo o que seus seguidores fazem. Vocês não poderiam em sua própria vontade vingar alguma ofensa feita a eles pelos outros. Ele não quer seus seguidores envolvidos em ações diabólicas, especialmente aquelas que objetivam a destruição de outras pessoas. Ele avisa nos poemas, que aqueles que tomarem as almas de outros, também pagarão com suas próprias almas ou com as almas de seus filhos e netos. Ele insiste que a posição dele é a melhor para proteger seus filhos, caso eles não resolvam tomar as leis da natureza em suas próprias mãos. Ọrúnmìlá insiste em que se alguém planeja a morte contra seus filhos, ele certamente fará com que a conspiração não tenha sucesso.
Contudo se seus filhos revidarem planejando também a morte ou a ruína daqueles que o ofenderam, Ọrúnmìlá rejeitará a justificação dos argumentos nos casos de cada filho, quando as divindades se reunirem em julgamento sobre a questão. Nenhuma questão é estabelecida sem ter sido determinada pelas divindades. Estas por sua vez, não condenam ninguém sem um julgamento limpo. Mas se alguém adquire por preempção ao julgamento divino pela lei do retorno, olho por olho, ele perde a justiça de sua causa. Ọrúnmìlá recomenda que seus seguidores tenham conhecimento de qualquer um que queira planejar o mal contra eles, sua primeira reação será ir ao oráculo a fim de descobrir se a pessoa terá sucesso.
Frequentemente se o peso da culpa está dentro da outra pessoa, será dito que o inimigo não o vencerá. Se por outro lado, o peso da culpa se inclina levemente contra você, você será orientado durante a consulta oracular no sacrifício o qual deverá fazer a fim de que a conspiração maléfica contra sua força pessoal não tenha sucesso.
Ao invés de fazer sacrifício, algumas pessoas preferem ainda os atos vingativos através da ida aos feiticeiros para preparar remédios mortais, com os quais combaterem o inimigo. Em alguns casos, se Ọrúnmìlá vê que o remédio que seu filho está preparando contra seu inimigo fará a ele algum mal e o mesmo obterá repercussão dolorosa no desenrolar, ele neutralizará a força do remédio e o tornará inútil.
Diante desta situação a pessoa forte começa a se questionar se o feiticeiro o enganou. Ele não o fez.
Ọrúnmìlá tem apenas demonstrado para seus filhos que destruir algum inimigo é destruir a si mesmo. Se você aponta um dedo na direção do seu inimigo, os quatro restantes, os quais são em maior número e simbolizando o eco, estão apontando para você. Ọrúnmìlá ilustrará que alguém que cava a sepultura de seus inimigos está ao mesmo tempo cavando sua própria. Este é o motivo de que a oração frequente de Ọrúnmìlá é para o bem dos amigos, inimigos, feiticeiras, divindades, irmãos e irmãs, assim que por esta razão aqueles que lhe desejam mal talvez não o alcancem.
Ele defende que é frequentemente muito recompensador para você orar por um inimigo que está planejando o mal contra você do que quando as divindades se unem para solucionar o caso, o peso da probidade estará ao seu lado. É melhor ter o suporte das divindades em certa situação do que atrair sobre si a sua reprovação.

Por: Áwo Ifálolá

Fonte/Crédito: Ary Carvalho (Da Ilha) - Culto a Ìfá.

CILADAS NO CAMINHO DA ASCENSÃO ESPIRITUAL


Autores de livros de autoajuda frequentemente listam coleções de atitudes e sentimentos que resultam em entraves para a trajetória daqueles que se empenham na sua evolução espiritual. Aqui vai a nossa lista de observações para o seu autoexame, com itens que consideramos perigosas armadilhas sempre à espreita do Ego desavisado e que podem conduzir a enganos, resultando em grande perda de tempo na senda:
1. Não reconhecer a negatividade do seu Ego como fonte primeira de todos os problemas, tudo atribuindo a fatores exteriores. Deixar de vigiar e educar de modo correto o seu Eu Interior, mergulhando intensamente na vida espiritual e tudo ao sobrenatural atribuindo, em desconsideração ao aspecto psicológico da sua personalidade.
2. “Amar” aos outros, descurando a si mesmo. Utilizar o álibi do “serviço ao próximo”, ignorando as responsabilidades para consigo próprio e para com os seus dependentes imediatos. Quem não ama a si mesmo é incapaz de amar a quem quer que seja. Só compartilha quem dispõe de algo a ser compartilhado. A Escola Terra destina-se ao burilamento do Eu Divino que se encontra em estado bruto e revestido por camadas egóicas no interior de cada um.
3. Comer incorretamente, ignorando a constituição química do seu corpo físico. Acreditar que numa alimentação que restrinja o prazer degustativo, ou no jejum, encontrará as chaves mágicas da ascensão espiritual. Não praticar exercícios físicos para cuidar do corpo físico que, afinal, é o nosso instrumento principal. Tender para o ascetismo e desligar-se demasiadamente das coisas da Terra, vitais para a nossa experiência em matéria. Identificar-se excessivamente com seus corpos mental ou emocional, sem ter ainda atingido o equilíbrio necessário. Considerar-se evoluído demais para estar na Terra, ao invés de tentar contribuir para uma mudança de paradigma aqui e agora.
4. Exercer domínio sobre os outros através de ameaças e manipulações, sufocando as manifestações do seu livre-arbítrio. Deixar-se enredar pelo glamour e ilusão dos próprios poderes, acabando por esquecer o amor incondicional – onde reside o poder espiritual supremo. Ter a pretensão de acreditar e assegurar que está no “final da roda encarnações”.
5. Tornar-se um extremista fanático, sem enxergar o equilíbrio do caminho do meio. Buscar argumento e justificativa nos dogmas das religiões formais, sem exercer com lucidez o seu próprio discernimento. Apoiar-se e depender da figura de um sacerdote ou guru como intermediário entre si e o Divino.
6. Tornar-se sisudo, autoritário e formal, a ponto de privar-se da alegria e da diversão. Mascarar tranquilidade e suavidade, enquanto a presunção interior ferve com irritação e intolerância.
7. Ser indisciplinado nas suas práticas espirituais, abandonando-as quando se envolve num relacionamento amoroso e conferindo prioridade a ele, em detrimento do seu processo interno.
8. Esperar que Deus, os Mestres ascensionados - ou seja lá quem for – resolvam todos os seus problemas, intercedam pelas suas dívidas cármicas ou assumam as suas responsabilidades. Acreditar que alguém teve o privilégio de nascer “pronto” e que os Seres e Mestres ascensionados não trilharam o mesmo caminho dos desafios, provas que a evolução requer.
9. Convencer-se de que o sofrimento e o cultivo da pobreza são méritos que poderão acelerar a sua evolução ou engrandecê-lo espiritualmente. O trabalho eficiente que produz frutos e riqueza que a muitos beneficia é uma bendita missão na Terra. Cada um tem o direito de honrar o seu próprio esforço e reconhecer o seu valor. O manto da humildade costuma servir de disfarce para a arrogância e o orgulho exacerbado. Falsa humildade não deve ser confundida com elevação espiritual. Quem conhece a sua verdadeira e ínfima dimensão perante o Divino, não precisa mascarar humildade, inferiorizando-se perante os seus semelhantes.
10. Não fechar o seu campo energético, convencido de que “as boas intenções” o tornam imune a todas as influências negativas. Achar que, partindo da premissa de ser merecedor, seus desejos e pedidos devem ser sempre “atendidos”. Ser bem-sucedido é muito gratificante, mas o objetivo principal da vida não é a obtenção de tudo o que se deseja.
11. Viver na zona de conforto relaxando a vigilância sobre suas falhas, acreditando que está imune a quedas e retrocessos.
12. Ler demais, não meditar o bastante e colocar em prática menos ainda.
13. Considerar uma grande honraria poder servir como canal para entidades de outros planos, ao invés de expressar a sua própria voz. É preciso estar ciente de que, mesmo o mais evoluído dos Seres – da Terra ou de outro orbe – não detém o conhecimento total ou poderes ilimitados. Esta é uma prerrogativa da Divindade Suprema – que comanda todo(s) o(s) Universo(s) com seus muitos trilhões de galáxias.
14. Forçar a elevação da sua kundalini e a abertura dos chakras, sem ter ainda o necessário amadurecimento em outros aspectos, como se isso, por si, assegurasse o acesso ao “nirvana”. Portanto, o ideal é procurar equilibrar e integrar intuição, intelecto, sentimento e instinto, cada qual na sua devida proporção e valor.
15. Considerar o seu caminho espiritual – quando não o único-melhor do que o dos outros e aferrar-se a este caminho como Verdade única e definitiva, sem considerar que as vias são inúmeras e que a impermanência é constante no Universo manifestado. É preferível abster-se de discussões ou da pretensão de, no entusiasmo das suas experiências, convidar o outro a experimentar as vivências que são suas. Para cada patamar há afinidades próprias e experiências particulares.
16. Julgar as pessoas em função da sua antiguidade na senda espiritual ou do nível de iniciação que alcançaram. Gabar-se das próprias façanhas espirituais ou das dos seus mentores e guias. Forçar com ansiedade as próximas etapas, ao invés de concentrar-se na realização do trabalho – e nos dissabores – da etapa atual.
17. Competir, comparar-se com outras pessoas e acabar invejando o sucesso alheio, ao invés de perceber que somos únicos, com dons e potencialidades próprias, cada qual segundo circunstâncias e vivências específicas. Por fim, jamais esquecer que o Caminho é individual e, portanto, solitário. Não se imbuir da busca infrutífera de uma eventual “alma gêmea”, sem perceber que a sua própria Alma – a Mônada – dispõe de ambas as polaridades para se complementar plenamente.

Por Òya gbémi – Eliane Haas
Ìyá Ègbé Ilè Àsè Efunlase

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sasányìn – O culto as folhas sagradas.


Em uma casa de candomblé, um dos elementos principais e que requer grande sabedoria são as folhas. Sem esse entendimento não haverá a presença do Orixá, o velho provérbio das casas: Kó sí ewé, kó sí Orixá! Sem folha não há Orixá.
Ter os conhecimentos das folhas que vão participar dos banhos purificatórios, combiná-las com suas propriedades específicas adequadas a cada Orixá, a cada Orí, na confecção do adòsú, na preparação da ení do futuro ìyàwó como forma de proteção e fortalecimento, no àgbo do banho do iyawo para purificá-lo, como também como bebida e remédio e o próprio transe na incorporação da energia, estabecendo equilíbrio e inconciência. A quantidade de folhas no àgbo varia de casa para casa podendo ser quatro folhas ou múltiplos de quatro e combinando a essência.(quente/fria, macho/femea).
O Olosányìn é o responsável pelas ervas, folhas e vegetais em geral, este cargo está diretamente ligado aos zeladores da casa, dada a sua importância e responsabilidade, caso não existe um Olosáyìn ou Babalossayìn, o próprio Babalorixá ou Iyalorixá cumprirá essa função, não podendo delegar a outro filho.
As folhas quando chegam na casa devem primeiramente descansar por algum tempo, depois devem ser bem lavadas por quem irá macerá-las, são colocadas sobre a ení para que o Babalorixá ou Iyalorixá possa rezá-las com cântigos das folhas ou de cada fôlha especificamente de frente para os Ìyàwós que se encontram Kúnlè (ajoelhados). O Bàbá ou Ìyá abrirá um Obí, confirmará as folhas escolhidas, mastigará o obí espargindo-os sobre as folhas com seu hálito, seu axé, suas palavras mágicas, para logo depois soltar as folhas para macerar, separando os galhos, caules e folhas feias para o lado, em silêncio, com uma vela acesa à frente, sem pressa e rápido. Vale ressaltar que após a masseração, o banho descansa um pouco e o que sobrou do banho, já cuado, irá para o ajubó de Òssayìn da casa, para depois ser despachado nas águas do rio ou mato.
Todas as obrigações, além da iniciação, em que tiver sacrifício de animais de quatro pés, serão sempre precedidos dessa liturgia sagrada, e também, sempre com louvação a Pai Ossayìn, no qual chamamos comumente de Sasányìn ou seja Asá Òsányìn, que são feitos no primeiro dia após iniciação, no terceiro e sétimo dia. Há também o ebó de carrego de toda a obrigação que o próprio Iyawo participa que é entregue a Exú Òdàrà em seu ilê, para que de tudo certo e proporcione tranquilidade aos rituais secretos internos do axé.
Òsányìn Elesekan, Irúmalé àgbénigi, Òsányìn Onísegùn Ewé ó Asà! Orún ejé.
“Korin Ewé”, isto é, cantar Folhas em louvar a Ossayìn, aos animais que participaram da obrigação, aos Babás, Iyás, ancestrais, aos egbons, sua raiz e axé, Ogans e Ekedis, aos Orixás e ojubós da casa, a Orunmilá e por fim a Oxalá. Finaliza-se o culto com os cântigos das três águas de axé, reverenciando o Màrìwò e Ósányìn.
“Ògbèri nko mo Màrìwò” – O não-iniciado não pode conhecer o mistério do Márìwò.
Algumas casas tradicionais tem um esquema fixo de folhas combinadas para banhos de àgbo pra casa, para obrigação, para o Axé, para o osé, etc.
Um dado litúrgico importantíssimo é que as folhas acompanham os assentamentos de todo e qualquer Orixá quando estes vão comer, acomodando o assentamento, como também o Igbá Orí quando o Orí vai comer. As folhas combinam de uma forma mágica misturadas e essencialmente equilibradas.
Pai Òssayìn gosta de um fumo de rôlo no cachimbinho de barro, se disfarça num lagarto, num galho seco que passarinho pousa, pula numa perna só, gosta de vinho de palma, fradinho torrado com mel, frutas, alquimista, solitário e um grande Pai que está presente dentro do axé das casas ketu/Nagô. Sãos as folhas secas que nos fornecem um bom defumador para inúmeras finalidaes, são com folhas que fazemos vários tipos de ebós de sacudimento de egun, e quantas dietas fazemos com folhas? vários comidas de Orixás.
Ewé Òrìsà!

Fernando D’Osogiyan

Vodun Sòhòkwè (Xoroquê)




































Sòhòkwè (lê-se Soroquê) é um vodun filho de Mawu e Lissá, cujo elemento principal é o fogo. Muitas são as dúvidas relacionadas a esse vodun. Devido a mistura de cultos, já explicada em outros tópicos, Sòhòkwè passou a ser aglutinado na cultura yorubá, passando a ser confundido com um dos caminhos de Ògún. Segundo o mito yorubá, Ògún Sòhòkè (lê-se Xoroquê) é o Ògún que desceu as montanhas, sendo o senhor das trilhas e do fogo líquido onde, Xòrò deriva do termo yorubá “Sòròrò” ou “Xòròrò” que significa descer ou escorrer e,” òkè” significa montanha. Segundo os mais velhos é um Ògún muito arredio, sendo muito coligado ao seu irmão Èsú e tendo todas oferendas e fundamentações com o mesmo. Dizem ainda que essa “qualidade” de Ògún tem muito fundamento com ègún, sendo ele responsável por todos aqueles que desencarnam em acidentes na estrada ou linha férrea. Em outras casas, Sòròkè deixou de ser uma qualidade de Ògún e passou a ser um Èsú , com as mesmas características do Ògún Sòròkè porém, sendo fundamentado como qualidade de Èsú e passando a ser cultuado como o mesmo. Mas para nós de jeje, Sòhòkwè não é nem Èsú nem Ògún e, sim um vòdún independente, com culto próprio e de características próprias que acabou por ser fundido a cultura desses dois òrísás por ter coisas em comum. Isso ocorreu também com outras divindades como Agbé, Aboto, Azansu, Sogbo, Intoto e outos mais que acabaram aglutinados a cultura de outras deidades africanas, talvez por falta de estudos ou fundamentos. Sòhòkwè é o guardião das casas de jeje, onde Sòhò(lê-se sorrô) significa guardião e kwè(lê-se Qüê) significa casa. Seu assentamento é fixado ao chão, cravado na terra, ao lado do assentamento do vodun Légbà, vodun Ayizan e do vodun Gú (Ogun). Sòhòkwè não é iniciado na cabeça de nenhum adepto pois o mesmo não incorpora. É iniciado apenas na cabeça de ogans e ekedis e possui a função de manter a ordem dentro das casas de jeje, punindo e cobrando quem as derrespeita. Sòhòkwè é o caminho formado pela lava após ser expelida do vulcão, possuindo muito fundamento com Badé, Sògbò e outros voduns que moram nos vulcões e que estão ligados ao fogo e também com Oyá. Sua cor é o Azul escuro e o vermelho, seu dia da semana a segunda-feira . Geralmente quando aparece um filho rodante com arquétipo de Sòhòkwè geralmente é iniciado para Ogun.

Por: Hùngbònò Charles - Nação Jèjè Mahì

terça-feira, 5 de junho de 2012

A Canção dos Homens.


A CANÇÃO DOS HOMENS

Quando uma mulher de certa tribo da África sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres, e juntas rezam e meditam até que aparece “A canção da criança”.
Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam sua canção. Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe canta a sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta.
Quando chega o momento de seu casamento, a pessoa escuta sua canção.

Finalmente, quando a sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, como em seu nascimento, cantam sua canção para acompanhá-la na “viagem”.
Nesta tribo da África, tem outra ocasião na qual os homens cantam a canção.
Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, levam-no até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor.
Então lhe cantam “sua canção.”

A tribo reconhece que a correção para as condutas antisociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção, já não temos desejo nem necessidade de prejudicar ninguém.
Teus amigos conhecem a “tua canção”. E a cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes, ou as escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam tua beleza quanto te sentes feio, tua totalidade quando estás quebrado, tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.
Tolba Phanem
Poetisa Africana

Roberto Machado
Álbum com últimas publicações de Roberto Machado.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Casa de Òsùmàrè, as roupas no candomblé.

Preocupados com a perpetuação sobre o vestuário dos praticantes do Candomblé, bem como dos nossos Òrìsàs, o Terreiro Ilé Òsùmàrè Asè Ogodo, vem por meio deste veículo, esclarecer alguns pontos, tendo como princípio a cultura que nos foi passada, ao longo de mais de um século de tradição. Percebemos que o complexo código de ética relacionado às vestes dos praticantes do Candomblé, está sendo diariamente infringido, expondo a nossa religiosidade de forma profana em meio à sociedade. Dessa forma, esse artigo tem por objetivo, dirimir dúvidas de pessoas que não tiveram o acesso à informação e, também expor a opinião do Asè Òsùmàrè sobre esse importante aspecto da nossa religiosidade.
Desatentos às hierarquias das indumentárias e vestimentas do Candomblé, muitos participantes (talvez pela falta de conhecimento) estão desrespeitando, não somente os seus mais velhos, mas também as nossas Divindades. Isso ocorre, principalmente, com a chamada “carnavalização” dos tradicionais paramentos dos Òrìsàs. A situação vem se agravando, ao ponto de recriarem os trajes, implantando assim, uma nova maneira de vestir os Òrìsàs e seus filhos, ignorando a tradições centenárias, originarias de uma Religião milenar e, desrespeitando, de forma muito preocupante, a essência de cada Òrìsà.
Com o cuidado de não ditar ou impor um código vestuário, apontaremos abaixo, apenas algumas violações (as mais recorrentes) que comprometem as tradições do Candomblé, descaracterizando de forma muito triste a nossa religião, bem como, algumas recomendações da nossa Casa.


ÌYÁWÓ
MOKAN: Uso indispensável
IKAN: Uso Indispensável
DILOGUN: Uso Indispensável:
“LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se dançar Sire de branco;

ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

OGÁ (OGAN):
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

EKEJI (EKEDE):
SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana;
TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma toalhinha para “enxugar” o Òrìsà.

ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS);
MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na confecção da Roupa dos Òrìsàs;
ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos;
ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite prata ou “azul clarinho”
PENAS.: Nossa religião é tribal, mas não indígena, a utilização de penas na confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva;
SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta;

ÀSÈSÈ:
HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété;
MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas);
PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;

BATA:
QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye, etc. – Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as autoridades);
CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido! Um ditado tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a Ignorância da Ègbón;

PANO DE CABEÇAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita às mulheres (o Babalòrìsà “em sua casa” tem a autonomia de optar ou não pelo uso. O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como por exemplo Bori”);
ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino, você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo, que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua Ìyálòrìsà;

PANO DE COSTAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrito às mulheres.
UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano na cintura);
USO TRASVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;

FIOS DE CONTA.:
AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas);
BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;

SAIAS:
QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, mesmo se seu Òrìsà seja ayaba);
CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);

ROUPAS BRILHOSAS E BORDADOS:
ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o brilho);
BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca, Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e pessoas com obrigação de sete anos arriada;

BRINCOS E PULSERIAS:

Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar brincos e/ou pulseiras.
A Casa de Òsùmàrè, pede que as pessoas reflitam sobre a essência de nossa ancestralidade, os Òrìsàs. Uma Ìyáwò aguardar a conclusão de suas obrigações, para a utilização de determinadas vestes, não a coloca inferior à ninguém, muito pelo contrário, mostra somente sua resignação por um determinado período, em obediência às regras do Candomblé pelo seu Òrìsà. O cumprimento desses interditos, confere ainda mais valor à obrigação de sete anos, em que a então ìyáwò, poderá utilizar-se de outras indumentárias, estando desta forma, em outra fase de sua missão religiosa (torando-se uma ègbón). No Candomblé, todos os passos são galgados, assim como na vida, afinal, a criança não nasce andando, existe um processo de aprendizagem. Uma mãe preservadora resguarda sua filha das maquiagens até a idade certa, etc. Assim é o Candomblé.
Um Ogá não pode se sentir desprezado por não vestir-se como um Babalòrìsà, ele sim, deve se sentir orgulhoso em pode estar preservando a cultura dos antigos Ogá. Um Oga vestido com Ogá, é facilmente identificado em meio a multidão. O mesmo se aplica aos Babalòrìsàs, que não podem almejar as vestes femininas, pois nesse caso, ao invés de mostrar poder e distinção, evidência sua falta de conhecimento sobre a liturgia de cada elemento utilizado. A Casa de Òsùmàrè, não tem a intenção de ditar regras, mas sim, expor seus costumes, aprendidos ao longo de gerações, divulgado e esclarecendo muitas pessoas que jamais foram orientadas sobre como se vestir no Candomblé e por isso, cometem tantos erros.

Fonte/Crédito: Fernando Tì Òsògìyán
Pesquisa: Casa de Òsùmàrè/BA

Oyá Ìgbàlè – O Mito

Eèpàrìpàà! Odò ìyá


Esse post sobre Oyá serve também para desmistificar de vez a palavra Ìgbàlè e dar valor a essência da liturgia de Oyá e seus caminhos, dando-lhe a verdadeira conotação e entendimento litúgico.
Para um melhor entendimento e compreensão deste caminho de Oya, julgo necessário obter o devido conhecimento da palavra Ìgbàlè.
A palavra Ìgbàlè significa – pequena mata, lugar sagrado; tem a conotação de “A Floresta Sagrada dos Egúngun” ou “O Bosque Sagrado dos Ancestrais”. O mito relata que:
“..Em épocas muito remotas, havia na cidade do Oyo um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado ihobia, pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.
Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado, correu ao Babalawo, que consultou o oráculo de Ifá. O sacerdote indicou que, após o l7º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um “bastão de invocação” do qual deveria ser denominado de isan. Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de antes fazer certos sacrifícios e oferendas.
Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.
Deste dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos as outras pessoas; as belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente suas condições de mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai, deveria ser “acomodado” os fundamentos do culto e denominado de ojúbo – Altar, no mesmo local do primeiro encontro, ou seja no Igbó Ìgbàlè, ali seriam feitas as oferendas e os sacrifícios e onde as roupas deveriam permanecer guardadas, para que eles as vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.
Seguindo o pacto e as instruções do Babalawo, de que sempre que os filhos morressem fosse realizado o ritual após o l7º dia, pais e filhos para sempre se encontraram. E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas que elas as farão com imenso prazer…”
Assim sendo, poderia interpretarmos Oya Ìgbàlè como “A Senhora da Floresta Sagrada dos Ancestrais”.
Se um dos atributos de Oya em sua pura essência é o “Espírito do Vento”, neste caminho ela é denominada de “O Vento da Morte, A Regente do Vento Invisível dos Egúngun” Oya Ìgbàlè é a divindade que Olódúmarè outorgou o direito de controlar os espíritos dos seres humanos quando desencarnados. Ela tem que assegurar que nosso espírito, de uma forma ou de outra, não seja prejudicado nesta “transição” tão delicada. Esta transição esta sub-dividida em 9 etapas: leito de morte, velório, caminho do cemitério, porta do cemitério, caminho da sepultura, sepultura, ritos fúnebres, despacho do carrego e o caminho para o além; e caso este espírito tenha que regressar ao mundo dos vivos, para solucionarmos alguma pendência, novamente deverá ser acompanhado por Oya Ìgbàlè.
Há tradicionalista modernos quem diga que o conhecido Déjà Vu a esta divindade pertence.
Oduleke foi o primeiro caçador a receber os ritos do Asese, celebrado por Oya Ìgbàlè. Até então este rito era somente destinados aos caçadores, para somente depois ser designado a todos os iniciados e consagrados ao Culto do Òrìsà e Egún.
Uma de suas principais características, esta em sua lealdade para com seus seguidores. Quando Oya Ìgbàlè acompanha seus seguidores em uma batalha, invoca seu poderoso exército de Egúngun liderado por um dos mais temíveis Ancestrais – Baba Ajimuda. Os mitos relatam que nesta batalha Oya Ìgbàlè cobre o rosto com uma mascara para ocultar a face da destruição. Na diáspora, esta mascara foi substituída pela pintura de efun do qual cobre por completo o rosto de Oya Ìgbàlè e que ninguém deve dirigir o olhar diretamente a ela, mesmo que esta cerimônia seja realizada no escuro.
No Novo Mundo Oya Ìgbàlè passa a morar no Ile Awo – A casa do Segredo, mas especificamente no Ile Sanyin ou popularmente conhecido com Lesanyin quando cultuada no Culto de Lese Egún e no Ile Ibo Aku quando cultuada em Lese Òrìsà. Suas representação materiais e seus atributos diferem de um lugar para outro, porém seu maior segredo se mantem em igualdade em ambos os cultos. Entre tantos outros o que mais diferencia seus assentamentos, são a presença de uma ossada retirada do corpo de um animal, do qual deverá ser prepara e consagrada para determinadas funções. Sabemos que o osso representa a morte, a representação de um ser que em outrora vivera.
Oya é evocada para para Proteção contra ataques de perversos ou Iku-Egun, atrair Amores, fertilidade na esterilidade, saúde das trompas, vendas de todos os tipos, Melhorias no comércio, movimento de comercio, atrair clientes, tomar iniciativa, Faxina espiritual, varrer os espíritos perversos.
YANLE – banquete de Oya
Ewure , Etu , Adiyé , Aparo, Adaba, Agbado cozido e pilado, Egbo cozido e pilado, Akara, Ipanu (Caramelos com gengibre), Ekò pupa, Ekuru pupa, Ibakan , Olele, Obi abata com Osun, Orogbo com Osun, Epo em quantidade, Oyin, etc.
Tabu: Agutan (carneiro), a fumaça, o Adin, a todos os Egusi (abobora, melão, melancia, cabaças).
Oyà sempre dá uma parte do sacrifico para Sango e Egungun, mas quando houver sacrifício.
(Por Babá Guido – Okitalande)

O culto a Egungun- parte 4

Oyá, Egun e os Mitos.

“Oyá não podia ter filhos e foi consultar um babalawo. Este lhe disse então, que, se fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era porque ela não respeitava o seu tabu alimentar (eewó) que proibia comer carne de carneiro.
O sacrifício seria de 18.000 búzios ( pagamento), muito panos coloridos e carne de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio para que ela o comesse; e nunca mais ela deveria comer dessa carne. Quanto aos panos, deveriam ser entregues como oferenda”.
Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz a nove filhos (número mítico de Oyá). Daí em diante ela passou a ser conhecida peo nome de “Iyá omo mésan”, que quer dizer mãe de nove filhos e que aglutina Yansán.
Filhos de Oyá:Imalegã; Iorugã; Akugã; Urugã; Omorugã; Demó; Reigá; Heigá; Egun Egun. Cada um tem sua característica e seu fundamento próprio, são representados no ojubó de Oyá Igbalé.
Há outra lenda para explicar o mito de Iyansã:
“Em certa época, as mulheres eram relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os em demasia”.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniam na floresta.Oyá havia domado e treinado um macaco marrom chamado`Íjímeré (na Nigéria). Utilizara para isso um galho de atorí (ixan) e o vestia com uma roupa feita com várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos.
Seguindo o ritual, conforme Oyá brandia o ixan no solo o macaco pulava de uma árvore e aparecia de forma lucinante, movimentando-se como fora ensinado a fazer. Desse modo, durante a noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres ( que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados.
Cansados de tanta humilhação, os homens foram ver um babalawo para tentar descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as mulheres o babalawo lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres através de sacrifícios e astúcia.
Ogun foi encarregado da missão. Ele chegou a local das aparições antes das mulheres.vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se escondeu, quando as mulheres chegaram, ele se apresentou subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas figiram apavoradas, inclusive Oyá.
Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto a Egun. Hoje eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim, eles redem homenagen a Oyá Igbalé, tida até como criadora do culto a Egungun e sendo idolatrada como mãe e rainha dos Eguns.
E, como explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão íntimamente ligados ao culto, inclusive com relação a voz do macaco como é o modo de Egun falar.

Pesquisa: revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

O culto a Egungun- parte 3

O Salão e a Festa

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir vivos com mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e previlegiadas mulheres que saõ exceção, como se fossem a própria Oyá. Elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente Oyê no culto de Egun. Essas mulheres zelam pelo culto fora dos mistérios, ajudam na confecção de roupas, matem a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas tem o direito de cantar para os Babás.
Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvou aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com outras mulheres. Elas funcionan como um elo entre os atokuns e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os babás, seu jeito e suas manias e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado sagrado é o mundo de Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixans que os amuixan colocam estratégicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica do ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Às vezes, os mariwos são obrigados a segurar o Egun com um ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cântigos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branco. Portará um osê (machado de lãmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o rítmo preferido de Xangô e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e hesitantemente marcadas pelos Oyês femininos, que também responderão aos cântigos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias cantigas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com fiéis, falará em um possível Yorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. babá Egun começará perguntando pelos fiéis mais frequentes principalmente pelos Oyês femininos, depois pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegarem pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselha-los e protegê-los, mantendo assim a morale a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como um verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa terminae a porta pricipal é aberta; o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidade de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos yorubanos da Nigéria.

Pesquisa: Revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

O Culto a Egungun- Parte 2

O Rito

Nas festas de Egungun, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Egunguns entram no salão através de uma uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo. Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários Amuixan (iniciados que portam o Ixan) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojês saim do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão chamada de Ilê Awo (casa do segredo), na Bahia, e Igbo Igbalé (bosque na floresta) na Nigéria. O Ilê Awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os Ojés podem entrar, e o Lêsànyin ou Balé, onde só os Ojês Agbá entram.
Oiê balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos – estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egun ali cultuado, e, o Ojubó-Babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários Ixans, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos Ojubós são colocados oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egun a ser cultuado ou invocado. No Ilê Awo também está o assentamento da divindade Oyá de culto Igbalé, Oyá Igbalé como é popularmente conhecida, a única divindade feminina venerada e cultuada simultâneamente pelos adeptos e pelos próprios Eguns.

No balé os Ojés atokutun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu assentamento, e é neste local que o awo (segredo)- o poder e o axé e Egun nasce através do conjunto Ojé-ixan/Idi-ojubó.A Roupa é preenchida e Egun se torna visível aos olhos humanos. Após saírem do Ilê Awo, os Eguns são conduzidos pelos amuixan até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojés, pelo som dos amuixan, branindo os ixans pelo chão e aos gritos de saudação dos alabês (tocadores e cantadores de Egun). O clima é realmente perfeito.

Pesquisa:Revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

Perfil – Mãe Cotinha de Iyèwá.


YÈWÁ TUDO SABE E TUDO VÊ!

Mãe Cotinha de Yèwá representou a 4° geração da Casa de Òsùmàrè, sendo a primeira mulher a assumir o maior posto hierárquico do Terreiro. Ela escreveu com letras garrafais seu nome na história do candomblé da Bahia. Sentou ao trono ainda jovem, em 1927, com 37 anos de idade. Governou o terreiro de Oxumarê por 21 anos, sob a orientação de Yèwá até o dia em que veio a falecer, em 21 de junho de 1948.
Os antigos relatam que Mãe Cotinha era muito tímida e não gostava de dar ordens. Estas características que a distinguiam foram responsáveis por Yèwá, muitas vezes, assumir a direção da Casa. Era a própria divindade que transmitia os ensinamentos, educava as filhas de santo conforme as tradições e costumes do candomblé. Era ela também quem aplicava as correções necessárias, quando eram violados os princípios religiosos da Casa de Oxumarê.
Nada acontecia sem ser visto pelos olhos de Yèwá, que tomava conta de cada detalhe da casa de Oxumarê. Ela prezava pela seriedade, e, nos momentos que eram preparadas as oferendas para servir os orixás, não permitia nenhum tipo de conversa, muito pelo contrário, cânticos para louvar as divindades eram por ela entoados, e, com muita alegria, respondidos por todos, ao tempo em que eram realizadas as funções internas.
Cada um tinha a sua função, as filhas de santo pertencentes a orixás femininos executavam tarefas mais delicadas como cuidar do preparo das comidas, lavar as louças, limpar e decorar a Casa etc… Enquanto as filhas de Orixás masculinos buscavam a lenha, iam até a fonte buscar água para realização de todos os afazeres, colhiam os grãos na horta, etc.
Yèwá era quem designava as tarefas para as filhas de santo de Mãe Cotinha, que realizavam os deveres em perfeita harmonia.
pesquisa: site www.cadadeoxumare.com

O Culto a Egungun- parte 1



Egun é o culto aos ancestrais masculinos, é elaborada pelas “Sociedades Egungun”. Estas tem como finalidade elaborar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos.
Os Mortos do sexo feminino recebem o nome de Iyá-mi Agbá (minha mãe anciã), porém, não são cultuadas individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Osorongá chamada também de Iyá Nlá, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas “Sociedades Gelèdé”, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detem e manipulam esse poderoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvou ao poder feminino ancestra, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino. Além da sociedade Gelèdé,existemtambém na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Ìyámi Osorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuados somente por homens. Tanto Ìyámi quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Ìyámi é maior e, portanto, mais controlado, inclusive pela sociedade Oro.
Outra forma, e mais importante, é o culto aos ancestrais masculinos, é elaborada pelas “Sociedades Egungun”. Estas têm como finalidade elaborar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades e comuninadades quando vivos, para que eles continuem presentes entre os seus descendentes de forma previlegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esses mortos surgem de forma visível mais camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada Egun ou Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições , pois só os homens possuem ou matém a individualidade; as mulheres é negado este previlégio, assim como participar diretamente do culto. Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a Yorubana.
No Brasil existem duas sociedades de Egungun, cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura: O Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambos em Itaparica, Bahia.
O Egungun é a morte que volta à terra espiritual e visivel aos olhos dos vivos.Ele “nasce” através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojés (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão ou vara chamado ixan, que, quando tocado na terra por tres vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a “morte se torne vida”, e o Egungun ancestral divinizado está de novo vivo.
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto dos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberto com uma roupa de tiras multicoloridas , que caem da ´parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, , chamada séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado Ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas afirmam que sob a roupa está somente a energia do ancestral; há também o transe mediúnico pois sob os panos está o mariwo (iniciado no culto Egunun) em transe ou preparado para representar seu ancestral, pelo sim pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun.

A roupa de Egun chamada de Eku na Nigéria ou opá na Bahia, ou Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwoa usam ixan para controlar a morte , alí representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocár-se , pois como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará assombrado, e o perigo o rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o Egun é a materialização da morte sob tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial.E mesmo os mais qualificados sacerdotes, como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns, desempenham todas essas funções substituindo as mãos pelo Ixan.
Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de baá-Egun (pai), são Eguns que játiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e sua vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos.
Os Apaaraká são Eguns, ainda mudos e sua roupas são as mais simples: não tem tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o alabá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual, também caem muitas tiras de pano na altura do tórax; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá. O banté que foi previamente preparado e impregnado de axé, é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas de madeira chamadas de Erê Egungun;outros entre o alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babás carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nesses casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, são extensas.
Continua.
Pesquisa: Editora Minuano, revista:Candomblé Mitos e Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

Sem Ebó não há Candomblé.

Ègbé, acho tão importante este tema que resolvi republicá-lo acrescentando mais informações e ratificando a importância de um Ebó em nossas vidas.
Será que todos sabem o que é um Ebó e suas inúmeras finalidades, e aí pergunto: para que serve o Ebó?


É importantíssimo esse entendimento para quem estuda, pratica e vive o Orixá.Tomar e restituir, propiciar redistribuindo, reequilibrar reestabelecendo uma sintonia com o Axé.
*”…Insistimos muitas vezes-diz Juana Elbein- que toda dinâmica do sistema Nagô está centrada em torno do ebó, da oferenda. O sacrifício em toda sua vasta gama de propósitos e modelidades… É a devolução que permite a multiplicação e o crescimento, Tudo aquilo que existe de forma individualizada deverá restituir tudo que o filho protótipo [Exú] devorou…Cada indivíduo está constituído, acompanhado por seu Exú individual, elemento que permitiu seu nascimento, desenvolvimento ulterior e multiplicação; para que ele possa cumprir seu ciclo de existência harmoniosamente, deverá imprescindivelmente restituir, através de oferendas, os “alimentos”, o Axé devorado real ou metaforicamente por seu princípio de vida individualizada. É como se um processo vital equilibrado, impulsionado e controlado por Exú, fosse baseado na absorção e na restituição constantes de matéria…”*
Respondemos inúmeras perguntas sobre qualidades de Orixás, fundamentos, lendas, feituras, borís, axés,sonhos, procuramos desmestificar e dar coragem ao leitor de interagir e familiarizar-se com essa cultura, porém, sem ebó não teremos religião e essa pergunta ninguém fez: Preciso fazer ebó para tomar um Obí? Eborí? Assentar um Oríxá? Iniciação? Como saber qual ebó devo fazer? Por que tenho que fazer ebó? Quando fazer o ebó?
Em primeiro lugar precisamos acreditar no Ebó e na Iyá ou Babálorixá que prescreveu o Ebó e, principalmente entende-lo, pelo menos ter um caminho de entendimento. Ter a prova concreta de ter feito o ebó e ter melhorado, ou ter se livrado de um perigo, amenizado um situação de queda geral, de acidente, de perigo, de perda, de injustiça, de doença, de mal agouro, de egun, de demanda, de negatividade, etc, etc.
Existem ebós positivos e negativos, aqueles que se dão caminho e os que não se dão caminho, ebós de odú, ebós de Folhas,ebós que são presenteados,èjè, opé àti ìdàpò, ètùtù,ebó Ojú kòríbi, Owaji, Osun, Efun, Yrosún, ebó ayè pínùm,ebó ìpilè,ebó catimbó,ebó ancestral, ebós de Exú, Ikú, Egun, Ebós de carrego, Ebós de Axexê,Ebó Ajeum,kizilas/Ewós, Ebó de Ori Ejó, Ebós de Kamburukú, Fatolú, Ebós de Osé, Ebós de Abikú, Ebó Omim, Ebós de prosperidade,ebó de troca, ebós de lua, sol, chuva, tempo, ebós da madrugada, leiú, ebós de rua de todos os tipos, ebó de cachoeira, rio, mar,cemitério, hospital, banco, praça, delegacia,empresas, igreja,mato, dentro do buraco, na montanha, ebós contra vícios, roubo e ebós e tantos ebós de limpeza e preparação até para abrir um jogo de búzios, ebós para chegar e para sair, pra viver, pra morrer,para mil outras finalidades. Os efuns no iyawo é um ebó de proteção e importantíssimo.
O ebó não espera um dia ser feito, se foi prescrito tem que fazer o mais rápido ou não faça mais, pois ele se apresenta num caminho que pode ser transitório.
O ebó existe permanentemente dentro de um Ilê Axé, no momento que entramos na casa, saudamos a entrada com água para esfriar o caminho, isso é um Ebó.
O Ebó é místico, essa é minha visão, ele tem influências de Exú e Orunmilá e Omolú. Na própria confecção do ebó tem a energia de quem está fazendo, arrumando, tem a energia de quem vai passar, de quem vai levar.
O banho de ervas é um ebó de pai Ossayin e, é de suma importãncia tomá-lo após um ebó, é o sangue verde das folhas, a essência viva da natureza.
Se faz ebó com apenas um ovo, se faz ebó com apenas uma pedra de ofun ralado, com uma pimenta da costa, se faz ebó com a fé nas coisas simples que é a grande sabedoria Yorubá.
Os iniciados no Orixá tomam ebó sempre e para sempre, pois, manter-se limpo é estar em sintonia com seu Orixá, é concebe-lo numa suavidade preponderante em seu axé individual, é dar ao seu Orixá um corpo limpo pra uma manifestação pura.
Òrúnmìlá òjó iku dá.**
Somente Òrúnmìlá muda o dia de nossa morte. (com ebó ikú)
O ebó é fundamental para quem quer manter o equilíbrio vital na convivência religiosa, pois “Sem Ebó não há Candomblé”.

Ary Carvalho**
Juana Elbein*
Fernando D’Osogiyan

O que é Ifá?




Muito se fala de Ifá e poucos sabem o que de fato é Ifá, Somente os devotos de Orunmilá,que é genéricamente conhecido por Orixá do destino, e que, ao se tornarem Babalawos, depois de um longo aprendizado, anguns afirmam levar 21 anos, e provas perante a sua confraria, é que podem fazer divinações, leituras e suas histórias, exemplificando, sempre com clareza aquilo que se quer saber e sendo recompensado por isso.
Ifá era um Sistema de Divinação, originário da cultura africana Yorubá.
Embora a Divinação Sagrada de Ifá não fosse o único sistema divinatório praticado em África, ela era de longe a mais completa e confiável, tendo sido fonte e modelo para vários outros “jogos de adivinhação” que dela foram derivados por simplificação, simbiose e ou, interpretação.
Em contraste com todos os outros tipos de Adivinhação, onde ninguém ousa ou tem meios de contradizer aquilo que o Adivinho assegura “ver”, a Divinação Sagrada de Ifá que denominamos como “Sistema Ifá”, seguia um conjunto regular de normas que enquadrava o Adivinho praticante e, além disso, os seus consulentes conheciam técnicas que pderiam impedir que ele se utilizasse de conhecimentos pessoais sobre eles ou sobre assuntos de suas intimidades, não precisando os consulentes sequer revelar-lhe a natureza do problema ou anseio que os levava a buscar aconselhamento.
O Adivinho que manipulava Ifá era denominado por Babaláwo de Baba ( o pai) + Li (que tem) + Áwo ( o segredo) era a Autoridade Máxima no Central do sistema religioso Yorubá.
Entende-se assim a importância do Ifá para massa de fiéis Yorubá e porque qualquer desvio de seu sistema regular de normas, intentado por qualquer Babaláwo, era criticado por seus consulentes e condenado por seus colegas de confraria.
Técnicamente, o Sistema Ifá baseava-se na manipulação dos Ikins/Coquinhos de Dendê, para a obtenção, ao acaso, de um número Par ou Ímpar de Dendês que, na dita manipulação, restassem na mão esquerda do babaláwo.Os Ikins quando batidos pelo Babalawo é marcado de forma alternada.
Um batida marca na direita, outra batida marca na esquerda. Assim sucessivamente até termos as oito marcas formando o omó Odu ou Olodu. O termo Ikin era designação especial para o EKURO/Caroço do EYIN/fruto da AWPE/palmeira Oleaginosa, conhecida no Brasil como Dendezeiro ou Dendê.

Esta qualidade par ou ímpar era traduzida por sinais gráficos diferentes no Ìyérosún/Pó Branco Consagrado, que era especialmente espargido sobre o Opón Ifá/Tabuleiro de Ifá.
Estes sinais eram conhecidos, genericamente, por Ojú Opón/Olhos do tabuleiro e, individualmente, por Ofú e Òsa.
Os resultados de uma sequência inicial de quatro manipulações eram marcados sobre o Ìyerosún, no lado direito do Tabuleiro, verticalmente, a segunda marca sob a primeira e, sucessivamente, a terceira sob a segunda, a quarta sob a terceira, sempre cada uma delas ao acaso de sua manipulação. Obtinha-se assim a Onã Ifá/caminho de Ifá de um dos dezesseis Odú/Fundamentos de Tradição que, associados aos Esé Itan/ Versos dos contos de Ifá, se constituíam nos Signos-Respostas Básicas do Sistema Ifá.
Estes dezesseis Odù Babá ou Básicos possuíam, cada um deles, denominações, a saber.

“Odús”
1-Ogbé Méjì
2-Òyèkú Méjì
3-Ìwòri Méjì
4-Òdi Méjì
5-Ìròsùn Méjì
6-Òwónrín Méjì
7-Òbàrà Méjì
8-Òkàràn Méjì
9-Ògundá Méjì
10-Òsá Méjì
11-Ìká Méjì
12-Òtùrùkpòn Méjì
13-Òtúrá Méjì
14-Ìretè Méjì
15-Òsé Méjì
16-Òfún MéjÌ


Essas denominações e ordenação correspondiam às mais usadas ancestralmente em Ilè Ifé, ou seja, na Cidade Sagrada dos Yorubás.
A repetição de uma outra sequência manipular igual, sendo as suas marcas Ofú ou Òsa registrados no Pó Consagrado do Tabuleiro, mas à esquerda das marcas do primeiro Odù Básico já lá registrado, possibilita a obtenção de um dos outros duzentos e cinquenta e seis (256) Odùs combinados, passíveis de existir e denominados por Omo Odù (filho de Odù), significando que a nova Oní Ifá é composta pela combinação de dois Odù Baba ou Básico.

Existem 240 Omo Odù também possuíam nomes específicos, formados pelos nomes dos dois Odù Babá ou Básicos de que se compôe, prevalecendo a designação do Odù Babá da Direita como se fora o seu Nome e a designação do Odù Babá da esquerda como se fosse seu sobrenome.
Aiyé atí Okán náa ni -”Vida e morte: Ambas são identicas”
(Máxima da Sabedoria Ancestral dos Yorubás)


Instituição do casamento Yorubá

É contrário à tardição Yorubá não se casar quando é chegada a idade para tal. Atingida a idade considerada ideal, isto é, 30 anos para o homem e 25 para a mulher, a maioria das pessaoas se casam, ainda que muitas vezes com o intento de salvaguardar a dignidade da família ou, no caso dos homens de encontrar alguém que se ocupa do lar. Produtos da vida moderna, entretanto, existem homens que, apesar de prontos para o matrimônio, evitam compromissos duradouros.
Antes da aproximação das famílias dos noivos, é sempre costume o pretendente investigar o estado de saúde dos pais da moça, a fim de assegurar de que eles não sofrem de males como a lepra, a elpilepsia, o alcolismo ou a insanidade.Essas incursões na intimidade dos parentes da mulher visam garantir a paz da vida do casal.
A família do rapaz em princípio escolhe a moça com quem ele vai se casar, mas, aquela só se aproxima da família desta ao se satisfazer com os antecedentes da moça. A aproximação pode ser realizada direta ou indiretamente. A família da moça não tem prazo para responder se aceita ou não o pedido da família do pretendente. Nesse ínterim, os parentes da moça são consultados sobre a pertinência do casamento. Caso não haja anuência para a união, a família responde que a consulta a Ifá Oráculo, foi negativa. Caso contrário, a família da moça dá a conhecer sua aquiescência através de um mensageiro.
A formalização do casamento só dá após o anúncio de ” Ifá fo re” (= Ifá consentiu) cerimônia conhecida por “Ijòhun) (= resposta à voz) ou “Iyinfá (= elogios de Ifá).
Em teoria, o casal não tem direito de mater relações sexuais pré-nupciais, além disso, a moça não deve se encontrar com seu noivo nem com a família deste por nove dias após o início do noivado.
Como em qualquer sociedade, entre os Yorubás existem comportamentos considerados anormais. Homens e mulheres que não se casam na idade adequada e vivem de relações extra-conjugais não são considerados pelo chefe da comunidade.
Com o início do noivado,o pretendente assume algumas obrigações para com os sogros.Em primeiro lugar, obriga-se a dar-lhes uma pequena parcela da produção em geral em época de colheita, além disso, deve servi-lhes como mão de obra para serviços gerais numa necessidade. Por últim, o noivo deve presentear os sogros com dinheiro e bens material e prestar auxilio no caso de morte de paretnte da moça. Ao morrer um idoso, fala-se em “morte alegre”.
O casamnento em si simboliza a conclusão de um contrato entre duas famílias através do qual se confere uma mulher a um homem. Para tanto, afamília do rapaz paga certa quantia em dinheiro que, por exemplo, era de 5 libras até 1918 na cidade de Abeokutá.
Ao se casar, o homem se torna o “oko” (=marido) e a mulher a iyawo (=esposa), designação esta, aliás, que os parentes do rapaz doravante também empregarão.
Na noite em que a esposa se muda para casa do marido, as duas famílias se reúnem. A primeira obrigação da moça na ocasião é pedir ao pai aconselhamento e bânção. Ajoelhada, a noiva ouve do pai os conselhos de como obedecer ao marido e a sua família. Isso feito, o pai lhe augura proteção divina e fecundidade.
Uma vez instalada a esposa, o marido pode passar a primeira noite com ela. Se,entretanto, a mulher não for mais virgem, o marido pode denunciá-la a seus pais e ela poderá ser devolvida pelo marido.
Passados 8 dias na casa do marido, a esposa realiza um trabalho simbólico a fim de demonstrar sua lealdade ao esposo: faz a limpeza dos arredores da casa e trás água para família do marido.
Em princípio, o casamento pressupõe uma união vitalícia, para cuja estabilidade contribui, além do sentimento envolvido, a existência dos filhos. No entanto, a mulher pode se divorciar do marido em situações específicas: se ele se envolver com criminosos, tornar-se viciado ou preguiçoso, contrair uma doença grave.
Se o marido morrer antes da mulher, o irmão daquele é obrigado, se solteiro, a esposá-la e adotar seus filhos, passando a prover sua subsistência. Antes da reunião do casal são feitos sacrifícios pela boa sorte na nova vida.
Desde a ocupação britânica, a instituição do casamento sofreu mudanças. A pesar de ainda não existirem resistências às mudanças, já se instauraram diversas novidades em relação ao matrimônio tradicional. Em 1937 ocorreu a primeira conferência de chefes de comunidade sobre a necessidade de se iniformizar a prática matrimonial entre os diferentes grupos étnicos.Entre outros, fixaram o valor que o noivo devereia pagar para obter o direito de se casar.
Basicamente, introduziram-se 3 mudanças na instituição do casamento entre os Yorubás: a primeira foi a possobilidade de duas pessoas se casarem sem a nuência da família, sem pagamento de dote e sem qualquer formalidade matrimonial; a segunda foi o abandno do casamento forçado de moças em idade infantil, por fim a terceira foi a popularização do divórcio.



Créditos/Fonte: Ary Carvalho e Fernando Ti Òsògìyán
Nigéria- Histórias e Costumes de Michel Ademola Adesoji

Perfil – Mãe Nitinha D’Oxun


Areonithe da Conceição Chagas ou Iyá Nitinha, nasceu na Bahia e é um dos mais tradicionais nomes do Candomblé brasileiro. Filha de Mãe de santo, Mãe Nitinha “fez o santo” aos quatro anos de idade, no tradicional terreiro da Casa Branca, onde nasceu Mãe Nitinha, professora primária e parteira da comunidade, foi Iyakekerê, Iyatebexê, Ojuodé e Iyalorixá em sua casa no Rio de Janeiro, Terreiro de Nossa Senhora das candeias em Miguel Couto na baixada fluminense.
Em 2005, foi escolhida pelo governo brasileiro como representante do candomblé na comitiva multirreligiosa que participou, em Roma, das cerimônias funerais do Papa João Paulo II. Contudo, não conseguiu embarcar, perdeu o vôo por haver chegado atrasada.
Mãe Nitinha se casou aos 14 anos, conseguiu que a família composta pelos filhos naturais e de criação, além de 12 netos, aprendesse a compartilhá-la com os fiéis que tanto a respeitavam.
Em 2000, reconhecida a aposentadoria aos pais e mães de santo, Mãe Nitinha tornou-se a primeira a beneficiar-se com a medida. Morreu em 4 de fevereiro de 2008, quando foi interrada com as vestes brancas e douradas de Mãe Oxun.
Quem conheceu Mãe Nitinha diz que ela seguia à risca os passou ditados por Mãe Oxun, seu Orixá, pois cresceu dentro do terreiro, aprendendo orikís e cantigas. Iniciou-se muito cedo, por isso, sabia conduzir um candomblé como ninguém.
Conheceu o presidente Lulano no Rio de Janeiro e, cerca de dez anos depois, foi escolhida para participar da comitiva ao enterro do Papa João Paulo II. Ao ser perguntada sobre o atraso no vôo, Mãe Nitinha dizia: “O santo mandou ficar”.
Em vida, Mãe Nitinha foi mulher ilustre, importante dentro da comunidade e que se relacionava muito bem com outrs religiões, sempre lutando pelas mulheres “do santo”, tanto que em 2007, recebeu do presidente Lula a “comenda do Rio Branco”.
Mãe Nitinha não era apenas um exemplo de Iyalorixá, tinha poder nas decisões e a magia no olhar, foi incontestávelmente uma das maiores lideranças religiosas no Rio de Janeiro.
Pesquisa: Revista Cultura Afro-Brasileira ” Candomblé”

Perfil – Mãe Cleusa de Nanã

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Perfil de Mãe Cleusa de Nanã
Cleusa da Conceição Nazaré de Oliveira, conhecida por Mãe Cleusa de Nanã — Salvador, foi a quinta Iyálorixá do Terreiro do Gantois. Foi sucedida por sua irmã Carmen de Oxalá, atual Iyalorixá do Àse Gantois.
Mãe Cleusa e Mãe Carmem eram filhas de Mãe Menininha do Gantois, e netas de Maria da Glória Nazareth a terceira Iyálorixá do mesmo Terreiro.
No Gantois, quem assume o lugar da mãe é a filha mais velha, essa é a tradição da casa. Segundo Julio Braga: “Historicamente, o Gantois é um candomblé familiar de tradição hereditária consanguínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino”.
Mãe Cleusa construiu toda uma vida longe do candomblé, mesmo tendo se iniciado na religião e ajudado a mãe a comandar o centro por um tempo, não queria ter esse compromisso religioso na sua vida. Casou-se aos 21 anos com um oficial milionário da Marinha de Guerra e com ele teve três filhos: Mônica, Zeno e Álvaro. Viajou por muitos países, conhecendo o luxo e a riqueza. Ao voltar para o Brasil, decidiu sair de Salvador e foi morar na Cidade do Rio de Janeiro, e lá passou a exercer sua profissão, já que estou muito durante a vida e passou no vestibular de Medicina na Universidade Federal da Bahia, e seu primeiro emprego foi na profissão em que se formou, obstetra.
Filha mais velha e sucessora de Mãe Menininha do Gantois no famoso candomblé do bairro da Federação na capital baiana.Culta,determinada,e de uma doçura genética reinou no Ilê iyá Omi Axé Yamassé por nove anos. Morou no Rio de Janeiro por muitos anos.Aniversariava no Natal e, muito generosa,presenteava quem estava à sua volta.Faleceu em 1998 na Boa Terra.
Site:Wikipédia

Abiyan-Ketu/Nagô: Seus Deveres e Responsabilidades.


                                     Abiyan-Ketu/Nagô: Seus Deveres e Responsabilidades
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O Abiyan é toda pessoa que depois de fazer uma consulta através dos búzios com o Babalorixá ou Iyalorixá, tenha tomado no mínimo um Obí e tenha um fio de contas lavado de Oxalá..
Os procedimentos e comportamentos básicos do Abiyan:
  • Estar vestido de branco principalmente se a casa for de Oxalá, ressaltando que:
- Homenscalça comprida e camisa branca;
- Mulheres Vestido ou saia/camisa branca;
  • Ao chegar ir direto beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas e evitar qualquer conversa;
  • Tomar seu banho de ervas e colocar sua roupa de morin;
  • Bater a cabeça no Axé, na porta dos quartos de Santo; para o Babá/Iyá, “trocar” à benção com TODOS os seus irmãos, sendo por ordem hierárquica (dos mais velhos aos mais novos), de acordo com a ordem iniciada;
  • Perguntar ao Babá/Iyá, sobre a função que deverá fazer na Casa; muitas vezes por ordem do Babá/Iyá, as funções podem ser determinadas pelas Ajoiês (Ekédis) da Casa.
  • O Abiyan deverá fazer suas refeições sentado na ení (esteira), e assim que terminarem, deverão levantar as mesmas e guardá-las. Não devem colocar os pés calçados nas enís;
  • O Abiyan somente poderá dormir em ení, caso se faça necessário terá a autorização do Babá/Iyá para dormir nos quartos dos Orisás;
  • O Abiyan ao acordar não deve falar com ninguém, deve antes beber um pouco de água: isso é para apagar os vestígios ou traços negativos provocados pelo mau hálito;
  • O Abiyan não deve ocultar do Babá/Iyá qualquer tipo de dúvida, problema e mal entendido;
  • O Abiyan não deve fumar na frente de seu Babá/Iyá;
  • O Abiyan nunca fica de pé em frente ao Babá/Iyá e sim agachado, com a cabeça baixa;
  • O Abiyan nunca interrompe o Babá/Iyá quando estiver conversando com alguém. Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogans, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é correto que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Diz então: “AGÔ” (licença), espera ele dizer “AGÔ YA” e de cabeça baixa falar com ele em tom de voz baixa;
  • O Abiyan não deve passar pelo o Babá/Iyá com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente;
  • O Abiyan sempre que for servir o Babá/Iyá, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir;
  • O Abiyan só deverá entrar nas rodas de Xirê se forem chamados pelo Baba/Iyalorixá;
  • O Abiyan tem suas funções na casa relacionadas à limpeza e manutenção, salvo se for um Abiyan antigo e de confiança poderá exercer outras funções;
  • O Abiyan não tem Orixá definido ainda, por isso é denominado um Abiyan (aquele que está começando em um novo caminho) mesmo que venha de outra casa;
  • O Abiyan deverá sempre pedir “Agô” para entrar e sair de cada ambiente do terreiro e esperar a resposta, “Agô ya” de um mais velho;
  • O Abiyan só poderá ir embora com autorização do Baba/Iyalorixá;
  • O Abiyan não questiona rituais litúrgicos de sua casa, respeita a hierarquia e se coloca sempre no seu lugar;
  • O Abiyan deve aproveitar o máximo este período de aprendizado, humildade e retidão, pois é neste momento que irão refletir quanto a futura iniciação, as responsabilidades do que é ser um Adôxu, um Iyawó.
A vivência no axé, a disciplina, observar o comportamento dos mais velhos, ser verdadeiro com seus sentimentos para com o Orixá, estar despojado de vaidades, e entender que o mais importante não é “fazer o santo e sim saber o porquê de se iniciar para o santo”. Não há pressa para iniciação, Orixá entende e nos concede essa oportunidade de aperfeiçoamento e adaptação, salvo as raras exceções.
Ser um bom Abiyan é estar se preparando para no futuro ser um bom Iyawó e assim como ser for um bom Iyawó é estar se preparando para ser um bom Ègbón.
De: Mônica D’Òsóòsì Iyá Kèkèré do Ilé Àse Òsòlùfón-Íwìn
Foto: internet

Perfil – Mãe Simplícia de Ògún.


Mãe Simplícia, uma guerreira!!!
Na época, em que Mãe Simplícia esteva à frente da Casa de Òsùmàrè, Getúlio Vargas já havia editado o Decreto-Lei 1.202, no qual ficava proibido o embargo sobre o exercício da religião do candomblé no Brasil. A partir da edição deste decreto-lei, cultuar os Òrìsà deixou de ser considerada atividade criminosa. Aos Africanos e afrodescendentes ficou assegurado o direito à liberdade de professarem sua fé.
Mas, infelizmente, não foi bem assim. A repressão e intolerância ao candomblé, em verdade havia se organizado. Para realizar as cerimônias religiosas, os rreiros precisavam pedir autorização e requerer um alvará de funcionamento na Delegacia de Jogos e Costumes, pagando taxas impostas para expedição deste documento.
O alvará de nada adiantava, não oferecia nenhum tipo de proteção, os terreiros continuaram a ser invadidos pela polícia que se tornava cada vez mais violenta. Os praticantes do candomblé continuaram a receber ordem de prisão, sofriam as mais diversas formas de intimidação, a citar como exemplo: autuados eram obrigados a carregar os seus atabaques na cabeça e caminhar até a delegacia.
Embora a Casa de Òsùmàrè já não fosse mais vítima dessas tais batidas policiais, Mãe Simplícia continuava indignada com o sofrimento dos povos de religiões de matrizes africanas, e tomou para si esta luta. E assim, começou sua jornada em defesa da liberdade religiosa.
Neste sentido, seu primeiro passo aconteceu em 1952, no inicio de sua gestão na Casa de Òsùmàrè. O carisma que lhe distinguia proporcionava manter relações influentes. Assim, tomou conhecimento que o presidente Getúlio Vargas, juntamente com o governador Régis Pacheco, o senador Assis Chateubriand, o vice-presidente Café Filho iriam inaugurar o Grande Hotel Caldas do Cipó, no sertão da Bahia. Diante desta informação, articulou-se para realizar a recepção para o presidente e sua comitiva, com o intuito de denunciar a releitura da inquisição contra o Candomblé promovido pela polícia baiana da época.
Nesta recepção, realizada aos 24 junho de 1952, Mãe Simplícia conseguiu a esperada conversa com o presidente e denunciou os horrores que os povos de religiões de matrizes africanas ainda sofriam, reivindicando, assim, os direitos de liberação dos cultos, conforme o decreto por ele sancionado. Uma ação que contribuiu para mudar o cenario vivido na epoca pelo povo de santo.
Mãe Simplícia de Ogun, Simpliciana da Encarnação, Ogun Dekisi, (1922 – 1967), era filha carnal de Maria das Neves da Conceição (Oyá Biyi), foi Iyalorixá do Candomblé Ilê Axé Oxumarê no local antigamente chamado de Mata Escura, bairro da Federação, Salvador, Bahia.
Em 1936 aos 14 anos foi iniciada por Mãe Cotinha de Yewá que depois se tornou sua cunhada por seu casamento com Hilário Bispo dos Santos (Vovô Hilário), irmão de Mãe Cotinha.
Em 1954 aos 38 anos com o falecimento de Mãe Francelina de Ogun, tomou posse como Iyalorixá da Casa de Oxumarê.

Teve cinco filhos: Jutaí Bispo dos Santos, Tânia Maria Bispo da Encarnação, Nilton Bispo dos Santos, Nilzete Austriquiliano da Encarnação e Erenilton Bispo dos Santos, todos iniciados na Casa de Oxumarê.
Descendentes de Mãe Simplícia
Iniciou quarenta e quatro Yawôs: Filhinha de Ogun (Dofona Deusuíta), Leonor de Oxumarê, Elza de Oxóssi, Ana de Ogun, Walquiria de Oxum, Nilza de Ogun, Dó de Ossayin, Cotinha de Oxalá, Deusuíta de Omulu, Pai Pérsio de Xangô, Ana Laura de Ogun, Duzinha de Nanã, Bentinha de Ogun, Rosinha de Obaluaiyê, Zezé de Obaluaiyê, Doroti de Yansan, Ekeji Angelina de Oxóssi.

Mãe era Simplícia e a fama de seu Orixá Ogum Dekisi, era conhecida por toda a cidade de Salvador. Pessoas de todos os lugares do mundo vinham até a Casa de Oxumarê para ter a honra de receber um abraço desta divindade de força tão presente.
Casa de Oxumarê.