segunda-feira, 4 de junho de 2012

O culto a Egungun- parte 3

O Salão e a Festa

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir vivos com mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e previlegiadas mulheres que saõ exceção, como se fossem a própria Oyá. Elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente Oyê no culto de Egun. Essas mulheres zelam pelo culto fora dos mistérios, ajudam na confecção de roupas, matem a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas tem o direito de cantar para os Babás.
Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvou aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com outras mulheres. Elas funcionan como um elo entre os atokuns e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os babás, seu jeito e suas manias e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado sagrado é o mundo de Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixans que os amuixan colocam estratégicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica do ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. Às vezes, os mariwos são obrigados a segurar o Egun com um ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cântigos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branco. Portará um osê (machado de lãmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o rítmo preferido de Xangô e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e hesitantemente marcadas pelos Oyês femininos, que também responderão aos cântigos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias cantigas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com fiéis, falará em um possível Yorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. babá Egun começará perguntando pelos fiéis mais frequentes principalmente pelos Oyês femininos, depois pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegarem pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselha-los e protegê-los, mantendo assim a morale a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como um verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa terminae a porta pricipal é aberta; o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidade de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos yorubanos da Nigéria.

Pesquisa: Revista Candomblé Mitos & Lendas.
Texto de Aulo Barretti Filho,O Culto dos Eguns no Candomblé.

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