sábado, 17 de março de 2012

Associação entre os Yòrùbás



A tendência para se associar é muito acentuada entre os Yorubas. Revela a constante intenção social de se protegerem os interesses mútuos, em setores diversos, tais como: economia, religião, lazer, etc. O caráter associativo tem sido tão forte entre os Yorubas que mesmo os escravos tinham sua organização própria. Evidentemente, esse tipo de associação não era incentivada pelos patrões.
Em cada cidade, os sacerdotes de cada Orixá formam uma associação. Os objetivos principais de cada associação é estabelecer um padrão nas consultas a seu Orixá, especialmente em situações críticas, como guerra, seca, pestilência, escolha de novo Rei, etc. Na prática, toda associação religiosa possui fins políticos. Indicam candidatos às eleições a chefe de Estado, que sempre são os próprios chefes-sacerdotes das associações. São elas, outrossim, que fixam as datas anuais de festividades em homenagem a casa Orixá.
É interessante observar que não há concorrência entre as associações, estando elas sempre unidas no ideal de resolver os problemas comunitários. Elas se servem umas às outras de maneira a propiciar sempre novas idéias.
Além das associações religiosas, supra-citadas, é interessante mencionar agremiações profissionais. Homens e mulheres Yorubas se organizam profissionalmente em corporações de ofício. É proibido abrir um negócio sem a permissão da associação correspondente. No entanto, não há restrições para entrar de sócio, bastando, para tal, pagar uma taxa sob forma de bebidas. As associações que possuem um Orixá como ente supremo realizam a cerimônia de aceitação de novos sócios no santuário do Orixá. Uma associação de ferreiros, por exemplo, exige que o candidato a sócio compareça com seu pai ao santuário de Ogun, Orixá dos ferreiros e guerreiros. Lá anuncia-se a intenção do interessado em aprender a profissão.
A associação mais interessante, entretanto, é a sociedade secreta Ògboní, que existe por toda parte dos Yorubas. Originou-se em Ilê Ifé, local tido como berço de todo o povo Yoruba. É necessário um Rei forte para que a sociedade se submeta ao mecanismo central do Estado e sua influência seja mitigada. Há locais, no entanto, como as cidades de Ijebu e Egba, onde os grupos políticos são por demais pequenos para que a sociedade se desenvolva suficientemente.
Ògboní, conhecida por Osugbo em Ijebu e Egba, foi fundada antes do advento do Cristianismo e exerce até hoje grande influência entre os Yorubas. Na ocasião da iniciação, revela-se ao neófito a senha secreta. Não é dado a um profano assistir a uma procissão da sociedade e nem a um funeral de um membro da sociedade.
Ao ouvirem o grito “he-e-pa”, os não iniciados devem se esquivar do caminho de passagem da sociedade, escondendo-se no local mais próximo. Na ausência de esconderijo adequado, as pessoas devem simplesmente cobrir o resto a fim de não olhar para os membros da sociedade. Durante a passagem da sociedade, é função de um membo dar o sinal sonoro para assustar os transeuntes. Qualquer não-iniciado que cair nas mãos da associação deve pagar uma multa pesada para, então, ser admitido nos mistéwrios da entidade. Esses mistérios constituem no uso de partes de corpos humanos em rituais de fraternidade.
Ògboní se intromete em qualquer desordem de âmbito político e social. Está ligada a outras organizações, como Eluku e Orò, para as quais mulheres não são admitidas e que realizam seus próprios julgamentos de criminosos. Em casos especiais, como ofensas políticas, pode hver execuções na própria sede Ògboní. Eluku e Orò diferenciam-se pelo fato de que esta amedronta as mulheres.
Os diretores da sociedade passam por um rodízio na cobrança das taxas dos demais membros. Em caso de morte de um sócio, Ògboní oferece uma cerimônia na residência do defunto e na sede e providência seu enterro. Como isto envolve muitos gastos, a família do morto deve providenciar os meios necessários para o funeral. Enquanto isso, ainda o morto permanece em seu quarto. Quando a família pode prover os meios imediatamente, ainda assim, só se executa o entero da pessoa sete ou nove dias após sua morte.
Durante as festas na sociedade secreta, fazen-se as instalações dos oficiais. É curioso como os diretores, com o finalidade de angariar fundos para a própria sociedade, buscam encontar nos sócios pequenas falhas na execução da ritualística ou na vestimenta, de maneira a poder cobrar-lhes a multa correspondente.
Quanto um membro de Ògboní morre, seu corpo é levado pela fraternidade. Se os filhos do morto não são iniciados e desejam conservar o corpo do genitor, devem pagar uma soma em dinheiro à sociedade.

Bibliografia: Nigéria, Cultura do povo Yoruba.
 

Professor Michel Ademola Adesojí

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